Clipagem


Ócio do Caramujo
19 de outubro de 2003
por Rodrigo Moreno

LEIA O NOVO, É TRIMMMASSA

Impregnada de narrativas fantásticas, a Livros do Mal mostra a nova cara da literatura atual.

Hoje, verifica-se a expansão do mercado e a ansiedade cada vez mais crescente dos jovens em publicarem seus berros literários. Entretanto, um grito literário só tem seu valor se for abafado, desesperado, transgressor. Para o bem ou para o mal, a verdade é que, talvez, esta ânsia jovial que não espera, pois a literatura também é para muitos escritores sinônimo de espera, paciência e amadurecimento, seria o reflexo das saturações do homem moderno (principalmente o ideológico) e a vontade de expressar cada vez mais cedo, com urgência, uma visão de mundo cravada na condição humana. Não vou entrar aqui nas discussões que até pouco tempo atrás viraram polêmica acerca da relação entre marketing e literatura. Atento-me apenas ao fato de que, recentemente, escritores estreantes, mostraram a possibilidade de criarem seus espaços, mantendo a independência, renovando, distantes de paparicar a boa conduta literária, como é o caso do perfil da Editora gaúcha Livros do Mal.

Desde quando o mundo é mundo, e parafraseando Guimarães Rosa, desde de que todo abismo é navegável a barquinhos de papel, é interessante observar como a bravura dos marinheiros, ao se debaterem no mais mediterrâneo dos mares, dá novo sentido aos pontos cardeais. A literatura é uma bússola. Não é à toa que digo isso, e digo isso porque, sobretudo os elementos fantásticos que encontramos na escrita destes rapazes é que chamam a atenção. Sobretudo esta força do fantástico, inserida no cotidiano das personagens, é que reflete a evolução do percurso da arte do desespero em expressar nossa vida caótica da qual se alimentam os escritores. Sim, porque até há pouco tempo atrás, nos deparamos com um homem que, ao acordar numa manhã, transformara-se num inseto, e hoje nos deparamos com um que se desaparece dentro de seu próprio cu. É o que encontramos em Ovelhas que voam se perdem no céu, livro de estréia de Daniel Pellizzari, 29. Criador da editora Livros do Mal, juntamente com o escritor Daniel Galera, 24, e o desenhista Guilherme Pilla, 27, Pellizzari, vulgo Mojo, já em sua primeira obra nos apresenta uma originalidade que mexe com os leitores. Contos como, o vôo das ovelhas, história de amor número 17, os calos de sísifo, gravidade, ponto de fuga e missal para rastejantes, nos mostram uma sensível intenção do jovem em querer renovar. Especialmente o último citado, do qual, após lermos, sentimos de imediato a vontade da releitura. Pela linguagem rigorosa, pela história densa e traumática da personagem que, num momento de acerto de contas, insetos ganham expressividade simbólica em sua trajetória marcada por remorsos e recalques. é. nem sei se andei crescendo. podem ter me cortado. eu um toco achando que é uma árvore. cheio de formigas e cupins cabeçudos abrindo caminho por tudo do dentro. pode ser a maior das árvores por fora, mas é um sopro e acabou. cheia de caminho de cupim.../na vida a gente tem que poder perceber o óbvio. a coisa que grita é sempre a certa. segui por esse caminho. nem um cadáver de formiga a mais.

Hoje, Mojo já tem sua segunda criatura parida, O livro das cousas que acontecem. Insistindo na renovação, o autor amadurece suas intenções. Aqui, abatido por um sentimento de excentricidade diante da obra, percebi que novos horizontes literários são encontrados nas entrelinhas, como se fossem segredos, e estar com os poros abertos para decodificá-los é o primeiro passo. Um homem que descobre o prazer de degustar o sêmen alheio, um diálogo entre os falecidos escritores Samuel Beckett, Julio Cortazar, Kafka e o poeta russo Danil Kharms, um homem que acorda na manhã seguinte com um buraco no meio da testa. São coisas que acontecem. Em seus contos, cada final reserva uma surpresa, até mesmo na própria falta de surpresa, quando o leitor, na expectativa de um desenlace inesperado, depara-se com um final resignado e singelo. No começo, o leitor ainda faz o movimento de avanço e recuo, mais tarde, já entretido, deixa-se fluir pelas peripécias da narrativa, numa espécie de deleite fantástico.

Qual é o sentido que o sexo tem para a geração de hoje? O mundo profissional? O ócio? Etc. Estas são algumas perguntas que o leitor poderá se perguntar ao ler os livros Dentes Guardados e Até o dia em que o cão morreu, contos e romance respectivamente, ambos de Daniel Galera. Fragmentos de um pequeno painel sociológico das relações humanas nos tempos atuais, as personagens de Galera passeiam pelos bares noturnos onde surgem possíveis triângulos amorosos, levam um chute na boca do estômago ao depararem-se com a condição humana num desabafo de prostituta, identificam-se com a vida vadia dos cães. Refletindo o combate entre uma neurose enferrujada provocada pelo ambiente hostil do capitalismo e a erupção dos instintos humanos como uma ruptura brutal e efêmera com a civilização, as criaturas do autor vêem-se suspensas. O que desejamos é trazer para um mundo fundamentalmente descontínuo toda a continuidade que ele possa sustentar. Após citar Georges Bataille, de L¿Érotisme, no romance Até o dia em que o cão morreu, Galera, logo no início, narrando em primeira pessoa, descreve o pesadelo do jovem, personagem principal, que vê nascer de dentro de si um outro ser idêntico. Quando existir não basta para ser, um adulto recém saído do forno encontra-se perdido no anarquismo da existência. Do meu lado, no colchão, a massa de carne que sai de mim se assemelha muito a um ser humano.../um outro corpo que cresce a partir do meu em poucos minutos, os dois unidos por um istmo de carne, que diminui de espessura até se romper num estalo. Finalmente, há dois indivíduos deitados sobre o colchão, desacordados e idênticos um ao outro. O mais estranho é que, nessa altura, eu já observo isso de fora. Dois sujeitos idênticos a mim, e nenhum dos dois é eu.

Narradas de maneira vertiginosa com impressões cinematográficas, lemos as descrições do pesadelo num só fôlego, para depois, numa mudança de ritmo, vê-lo sendo acordado por Marcela advertindo-lhe da presença de um bicho arranhando a porta. O bicho é seu cachorro, a Marcela, companheira com aspirações incompatíveis com o niilismo do rapaz, que vive nas alturas de um edifício frente às águas do Guaíba, alheio ao tempo frenético da Porto Alegre lá debaixo. Me causava agonia ver alguém se preparando constantemente para começar a viver./Eu não precisava de muita coisa./Na água do Guaíba e no horizonte, eu enxergava uma tranqüilidade que estava ao meu alcance no presente, que estava ali dentro do apartamento. Um belo retrato da geração atual, o romance de Galera carrega um lirismo apaixonado ao traçar o relacionamento entre dois jovens que se complementam e se consomem mutuamente na dramaticidade de uma solitária angústia existencial. Chegando no final do romance, Seu Elomar, porteiro do edifício, indaga: Esse pessoal mais novo, da idade de vocês, tá sempre assim meio nervoso, meio perdido, né? E Marcela, perto do bonito desenlace da trama, compreende: Sabe, agora eu entendo um pouco mais a razão de tu querer ficar tão isolado lá em cima. É tudo a mesma coisa, isolado ou mergulhado numa multidão, no trânsito, no trabalho, a solidão é sempre a mesma.

Vidas Cegas, de Marcelo Benvenutti, (o autor identifica-se como um ladrão e assim deve ser tratado) surpreende pela destreza da narrativa, inclusive com direito a neologismos. Surpreende pela peculiaridade de contar sobre vidas. A vida de Francisco, A vida de Carolina, A Vida de Tiago, A vida de Clara e outras não menos vitais e excêntricas, como A vida dos mortos, A vida das mulheres chuvosas, A vida dos amarelos piscantes e até mesmo A vida de ninguém. Peculiaridade que se vê na independência do autor. Ao usar a ficção para traçar a vida dos outros, nos causa a impressão de sempre estar onipresente em suas imaginárias biografias. Desfilando entre elas, a cerveja é sua companheira. Sua amiga nessa noite solitária onde a vida alheia é um acontecimento à parte(A vida dos mortos). Benvenutti reza em banheiros e ama derrotas. Se alimenta da sujeira e vive dos pensamentos alheios.(idem). Ou então, numa espécie de metalinguagem de uma literatura desesperançada, salda a importância de tratar a vida como uma ficção: Francisco usava a vida alheia para sentir. Sentia pelos outros. Vivia pelos outros./Seus amigos sentiram algo quando leram o que Francisco tinha escrito. Ele não tinha sentimentos. Nem sentia como seus amigos. Mas o que Francisco escrevia transbordava vida e sentimentos, mesmo que falsos, mesmo que mentirosos, mesmo que alheios, mesmo que imaginários.(A vida de Francisco). Revela às suas criaturas que a tristeza não é um descaminho. É uma dádiva(A vida de Carolina) e o preço da liberdade: Mas a liberdade, essa maldita que tomou conta de mim no dia em que nasci, essa maldita que me manipula, me usa, e da qual sou escravo, não me deixaria mudar apenas um dia de minha vida.(idem). O leitor perceberá a imaginação libertária de Benvenutti com maior relevância ao ler ¿A vida da pausa¿, um acerto de contas entre o escritor e seus personagens.

A condição da mulher e seu lirismo sempre foi um bom tema literário para os apaixonados, e Cristiano Baldi, 27, autor de Ou Clavículas, é um apaixonado. A surpreendente contundência da alma feminina é sempre o guia condutor para os desenlaces trágicos, inesperados e muito belos de seus contos. Citando como exemplo, Petruska, Sabrina apaixona, Mariêngel e Outro dia a gente tenta, desmascaradamente, os embaraços, os desajustes, os medos e as carências dos homens são revelados frente ao mundo visceral, transgressor e de abandono sentimental das mulheres. Em Sabrina Apaixonada, a faxineira de um escritório que dá nome ao título do conto, chega ao ponto de amputar partes do seu corpo afim de mostrar seu amor para o executivo Ricardo, um homem que por traz da sua aparente frieza, carrega consigo um fardo que, para sustentá-lo, requer grande dose de resignação e sensibilidade. Nesse ínterim de tragédias nelsonrodriguianas, o autor nos mostra como cada sexo lida com o fantasma da solidão.

Nós é que devemos nos animalizar, diz Paulo Bullar, 23, autor de Húmus, livro que aproxima com realismo e criativa imaginação os instintos do homem com os dos animais. Traçando perfis de macacos hedonistas, escatológicos ou ratos solitários, problemáticos e piscóticos, Bullar nos faz entrever em sua narrativa, muitas vezes fervilhante e ligeira, como em Cíntia e Abominável humano, tipos de seres que podemos encontrar, em um esbarrão, no calçadão da cidade. Há um dado momento da obra, o estreante escritor usa a criatividade para falar, em tom irônico, sobre sua proposta. Aqui os animais são caóticos, infelizes, traiçoeiros, nervosos, preguiçosos, podres como os humanos e, por que não, aqui os humanos são inocentes como os animais. Entre um moralismo que resguarda uma culpa coletiva da nossa condição e uma desordem anarquista dos instintos do homem, Bullar parece ficar com a segunda.

Nosso tempo está desnorteado, maldita a sina que me fez nascer um dia pra consertá-lo. Citando Shaquespere no início de seu romance, ao contar a história de uma espécie de parque temático infernal que é o Hotel Hell, novo livro de Joca Reiners Terron, 34, o escritor, que finca sua bandeira no terreno baldio da imaginação(confira entrevista abaixo) desnuda, desesperançado, em três partes, uma São Paulo no Princípio, por fim, Sem começo, nem desfecho, no seu fim, desde o início. Com uma linguagem altamente original, caótica, dosagem fantástica e personagens bizarros muito bem criados, dentro de um ambiente imaginativo denso e agonizante, o livro de Joca talvez peça uma segunda e ainda terceira leitura. A primeira para sentir um misto de estranhamento e deslumbramento frente a obra. A segunda para interpretarmos seu significado de desilusão frente à selvageria de uma São Paulo que, pisada e repisada, ganha proporções épicas. E finalmente, a terceira, para prestarmos atenção na peculiaridade da narrativa do autor. Recentemente a editora Livros do mal lançou o livro Ainda Orangotangos, de Paulo Scott, do qual ainda não li. Confira abaixo entrevista cedida, via e-mail, por Joca Reiners Terron, que tem no prelo novo livro de narrativas, Curva de rio sujo, a ser lançado pela Editora Planeta.

Você poderia contar um pouquinho como foram seus primeiros contatos com a literatura?

Livros são uma espécie de amuleto pra mim. Não consigo nem ir à padaria sem um livro na mão, mesmo que não tenha tempo pra abri-lo. E sempre foi assim. O primeiro livro que li foi aquela edição de Tales of Grotesque and Arabesque, do Edgar Allan Poe (dessa coleção que a Nova Cultural está reeditando agora), um presente de minha avó. Eu tinha dez anos e depois disto não parei mais. Lembro quando li Quo Vadis e Ben Hur num só dia. Um amigo brincava comigo, dizia que eu não podia ver uma linha em cima da outra.

Ao responder uma crítica, no seu blog, feita por Furio Lonza, sobre o teu livro Não Há Nada lá, você comenta que começou a escrever ficção direto com essa obra. Como é esse lance?

Eu escrevi algumas coisas na infância, que meu pai datilografava pra mim. Mas depois meus hormônios explodiram e não quis mais saber de literatura. Então, depois de alguns anos, descobri a poesia. E durante bastante tempo só li poesia e ensaios e escrevi poemas de forma desordenada. Como sempre tive ódio de poesia na escola (não suportava e não gosto até hoje de Drummond, Bandeira e quejandos), foi algo que me tomou por bastante tempo, a ponto de não ler ficção ou pensar em escrevê-la. Aliás, nunca planejei escrever ficção. É que vi alguns amigos (como o Nelson de Oliveira) publicando e me bateu uma puta inveja. Aí comecei a narrar também. Eu sou um invejoso.

Ainda se baseando na sua resposta da crítica, em um momento vc diz: Eu quero fundar minha igreja no terreno baldio da imaginação...¿ Os personagens do Hotel Hell são bastante interessantes. Vc possuí uma escrita muito peculiar. Como é que rola o processo de criação?

Tem um zilhão de coisas circulando pela minha cabeça. Às vezes eu consigo pegar alguma delas e transformar em literatura. E isto é o mais difícil: arrumar tempo e concentração pra escrever. Mas talvez as idéias tenham seu tempo pra amadurecer e virar literatura, talvez esse tempo que as idéias ficam me infernizando seja necessário pra que cresçam e apareçam. Você acha minha escrita peculiar? É porque é uma literatura de gênero, não é literatura BRASILEIRA contemporânea. É literatura gótica-ficção científica-policial-poesia-faroeste-metaliteratura ou alguma coisa assim. E é algo que será esquecido (se é que alguém percebeu que existe) muito em breve, pois não se encaixa em nada do que foi produzido aqui, e a tendência da crítica e da própria literatura é separar tudo em caixinhas rotuladas. Acho que vou começar a escrever literatura realista, sabe? Eu tenho uma China na cabeça.

Em meio à intensidade das descrições, há pelo menos dois momentos em seu livro, que particularmente gosto bastante, onde parece-me que surge um lirismo como que um desabafo. Talvez poderia dizer, um lirismo cansado, que são nos fragmentos ¿Muito, mesmo¿(pág 73) e ¿O outono sempre queimando seus brotos¿(pág 89). Momentos em que, talvez, o leitor já não se vê mais só pela ambientação tensa dos personagens, mas se vê ¿dialogando¿ mais diretamente com o escritor...

Tem uns momentos bastante líricos no Hotel Hell, as vozes de vários personagens são impregnadas de lirismo. Mas numa primeira instância o que salta à vista é a escatologia e a violência. Porém, escavando um pouco, surgirá a poesia, e um certo desejo de prever onde descambará a situação caótica da cidade de São Paulo, o seu futuro ou o seu presente, sei lá. Há um pouco de pulsão antropológica na estrutura meio circular da novela, e que procura reproduzir a forma que enxergo a cidade, acho. Não sou bom pra punhetar sobre o que escrevo. E evito abrir o livro, já que estou terminando outro e quero que ele seja diferente do Hotel Hell.

Da galera recente que anda escrevendo, qual é escrita que lhe agrada, contando com os estrangeiros?

No Brasil, o Daniel Pellizzari é um escritor de gênio que faz literatura com ambição e imaginação. E acho que há o Nelson de Oliveira, com caminho semelhante e uma obra já mais consolidada. Consigo até ver algum parentesco entre nós três, nossa literatura tem alguns matizes que conversam entre si. O André Sant´Anna também faz a minha cabeça. Na literatura estrangeira tenho lido mais poetas, como o argentino Hector Viel Temperley, o espanhol Leopoldo María Panero e o americano Stephen Dobyns, mas também ando encarando (com meu espanhol capenga) alguns prosadores argentinos contemporânos, como Daniel Link, Juan Martini, Adrián Haidukowski e Alejandro López. É, eu leio muita coisa ao mesmo tempo.

Se vc leu, ou esteve presente em Paraty, o que achou do debate que rolou a respeito da ¿Geração 90¿, na entrevista do dia 26 de Julho, com os escritores Bernardo Carvalho, Milton Hatoun, Luiz Ruffato e Marçal Aquino, na Folha de São Paulo?

Parece que essa entrevista era pra falar sobre outra coisa e acabou sobrando pra Geração 90. De qualquer forma a polêmica me pareceu meio exagerada. Seria muito mais simples que todos dissessem o óbvio: há muita gente boa escrevendo atualmente, e isto é sinal da ótima forma da literatura brasileira contemporânea. Ponto.

Vc poderia nos dizer um pouco sobre sua novo obra, ¿Curva de Rio Sujo¿, que está pra chegar? Em uma prévia publicada na revista eletrônica Fraude, há uma dedicatória a Valêncio Xavier...

O livro sai em novembro ou dezembro pela editora Planeta. É meu primeiro livro por editora grande (em tamanho, porque a Ciência do Acidente e a Livros do Mal são GRANDES editoras à sua maneira) e ficarei feliz se conseguir conquistar mais leitores, afinal a literatura é o meu maior tesão (depois do sexo, das drogas e do dinheiro). O Curva de Rio Sujo é um volume de contos mas, como não perco a mania, as histórias são todas meio inter-relacionadas, e há uma confusão entre minha biografia pessoal (através de histórias de minha família) e coisas inventadas. É provável que depois do livro publicado eu não possa mais frequentar festas de fim de ano em família. Mas tudo bem, essas festas são mesmo chatas.

E o lance da dedicatória do Valêncio? Você se identifica com ele?

Ah, o Valêncio! O Valêncio Xavier motivou minha redescoberta da leitura de narrativas. Na faculdade um professor amigo (Zé Luiz Valero Figueiredo) me emprestou O Mez da Grippe, dizendo ´Leia. Você vai pirar`. Eu pirei. E peguei o telefone, liguei no auxílio à lista e descobri o número dele, lá em Curitiba. Então liguei pro Valêncio e fiz a entrevista que está na edição do Meu Sétimo Dia, que fiz pela Ciência do Acidente, em 99. Na época que o descobri (94), o Valêncio Xavier era um escritor absolutamente secreto, e achar um livro dele era uma missão quase impossível. Há algum parentesco entre a nossa literatura, sem dúvida. O uso da imagem como elemento estrutural da narrativa e não apenas como mera ilustração. O caráter gran guignolesco ou gótico ou grotesco ou gore de nossa abordagem. Acho que o Valêncio é o meu antecessor ideal. Se não me engano era Borges quem dizia que bons escritores devem eleger as suas influências. José Agrippino de Paula, Campos de Carvalho e Valêncio Xavier são as minhas influências.