Clipagem


Jornal Zero Hora
12 de novembro de 2002
Por Luis Fernando Verissimo


Homenagem ao sortilégio

Para ser publicado o cara tem que ser conhecido, mas só fica conhecido se for publicado. Como sair dessa roda? "Publicar" é um verbo amplo, não quer dizer apenas imprimir em papel e distribuir entre duas capas. Já foi copiar em mimeógrafo (lembra mimeógrafo?), pode ser só declamar na praça. Há várias maneiras de "tornar público", e essas maneiras se multiplicaram com o computador. Hoje qualquer um com acesso à Internet se publica e publica quem quiser. Mas, felizmente, permanece a idéia que publicar, publicar mesmo, para valer, para ficar, para cheirar, acariciar, lamber e mostrar em casa, tem que ser em livro.

Os escritores que se juntaram para fazer a Livros do Mal são todos da geração saite e zine. Não sei qual foi a experiência de cada um com editoras estabelecidas. Há boa vontade com novos e desconhecidos em editoras locais como a LP&M e a Artes e Ofícios, mas a danação não-vende-porque-ninguém-conhece-ninguém-conhece-porque-ninguém-publica- e-ninguém-publica-porque-não-vende é mais forte, e eles não teriam vez. Poderiam continuar sendo autores saite e zine e até serem lidos por mais gente do que a que compra livros. Mas escolheram outra saída: fizeram a sua própria editora. Mais do que isto: fizeram uma editora de livros tão atraentes, tão bem cuidados, que só pode ser vista como uma homenagem ao sortilégio imbatível do impresso em papel e distribuído entre duas capas. Uma maneira de dizer que não há nada como um livro.

Os autores dos primeiros Livros do Mal são Paulo Bullar, Daniel Pellizzari, Marcelo Benvenutti, Cristiano Baldi e Daniel Galera. Escrevem contos, ou coisas parecidas. Ainda não li todos, mas já folheei, cheirei, refolheei, alisei e bolinei os seus livros várias vezes.