Clipagem


22.10.2001
Luís Augusto Fischer
Caderno Folhateen - Folha de São Paulo

A LITERATURA DE HOJE MESMO DEPOIS DE TODOS OS SEUS FINS ANUNCIADOS

Cem anos atrás, houve quem se pusesse a seguinte questão: será que, com a máquina de escrever, vai-se perder a literatura? Na hipótese derrotista, deixando segurar a pena com as mãos, os homens degenerariam suas habilidades motoras e, com elas, a literatura.

É uma demência, mas isso passava na cabeça de uns e outros. E assim foi quando apareceu o cinema, quando o rádio se popularizou nos anos 40 e quando a TV ganhou os corações de massas colossais de gente nos anos 60. Nos últimos anos, com o computador e a internet, não faltou quem dissesse que tudo estava indo para um brejo inominável.

Foi? Não. Se é certo que enormes contingentes de pessoas não lêem, também é fato que muitos lêem. Estamos falando do Brasil em que livros bacanas são produzidos e ficam à disposição nas (poucas e fracas) livrarias.

Uma prova de que a literatura em livro continua firme e sacudida é "Dentes Guardados", de Daniel Galera. Aos 22 anos, escreveu para zines eletrônicos e desembocou no livro. Com um amigo, inventou uma editora (www.livrosdomal.org).

O melhor são seus contos, predominantemente eróticos, vistos pelo ângulo masculino, com personagens que estão aqui, perto de nós, estudando, trabalhando, amando, transando, vendo os pobres na rua, sofrendo, tentando entender o mundo. E com um domínio ótimo da linguagem.