Clipagem


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Outubro de 2003
por Delfin

Paulo Scott, o autor deste livro, não é nem um pouco louco, apesar das insanidades que acontecem em seu segundo livro, Ainda Orangotangos. Não, deixe-me voltar atrás a tempo: ficção não é insanidade, é um exercício de possibilidades. E este exercício é colocado em cada parágrafo; e são parágrafos longos, acredite. Mas todos têm a suavidade necessária, quando necessário. E muitas dimensões, para quem tem olhos para vê-las. Boa parte destas possiblidades se sobrepõe no universo da cidade de Porto Alegre, que cada vez mais se torna o pólo de histórias que permeiam a multidimensionalidade da vida, como as que Scott conta, descascando as camadas da realidade aparente para que possamos vislumbrá-las, nem que seja só um pouquinho. Seu livro é acompanhado de uma trilha sonora composta especialmente para a obra, com destaque especial para Flu (que lançou recentemente No Flu do Mundo, um disco que todo mundo deveria escutar ao menos uma vez) e Paulo Campos. A trilha embala cada história. Talvez para tornar mais digerível ao leitor comum a sensação de estar entrando em lugares entreabertos, úmidos e distorcidos, os quais foram feitos para todos os atrevidos entrarem, mas que precisam de olhos fortes para encará-los de frente. Você pode não estar preparado para isto, mas Scott não se importa nem um pouco. Porque ele também é atrevido. Uma qualidade que anda, por sorte, cada dia menos em falta na literatura brasileira.