Clipagem


Jornal A Tarde (Salvador)
13 de novembro de 2003
Por Rodolfo S. Filho


Bizarrice marginal

A coletânea de contos “Ainda Orangotangos”, do gaúcho Paulo Scott, é mais um título que se soma ao catálogo da Livros do Mal. Integrado à proposta estética da editora independente, o livro traz 22 histórias curtas, acompanhadas das ilustrações de Paulo Chimendes e de um CD com uma música para cada história. Um pacote muito bonito e bem cuidado, sintoma da evolução dos editores Daniel Galera e Daniel Pellizzari.

Em sua maioria, as histórias de “Ainda Orangotangos” apresentam personagens urbanos, isolados ou quase marginais. Deficientes físicos, artistas, criminosos e tipos vagamente desequilibrados partilham o cenário das ruas de Porto Alegre. Indo do terror às recordações de infância, os contos de Scott conseguem ter unidade - vinda do estilo do autor e da sua preocupação com o aspecto sensório - apesar dos temas díspares.

Mesmo que muito bem escritos, os contos estão longe de agradáveis. Seja pelas explosões de violência ou por uma sugestão constante de perigo que as permeia, as histórias não descem leves. Ler o livro em uma sentada acentua o efeito, ao contaminar as narrativas mais leves - como “Sopros de Ampulheta” e “Casacas Grenais” - com o peso das anteriores.

Além de tratar temas difíceis sem sentimentalismo ou a irritante preocupação de oferecer soluções, “Ainda Orangotangos” se destaca por seus experimentos formais. Parágrafos são desmontados ou compactados, histórias são contadas fora de ordem ou começam depois do seu início, criando efeitos que fortalecem o texto sem prejuízo.