Penis erectus non compos mentis.
Robert Anton Wilson, Schrödinger's Cat Trilogy

(cinco minutos, vinte e três segundos)

Depois de se espreguiçar, Leopoldo dedilha o abdômen e se levanta para buscar uma cerveja. Volta da cozinha com a mão ainda na barriga e pergunta a Adriana se está gordo. Ela responde perguntando se ele está perguntando isso porque acha que ela está gorda mas não quer dizer, por algum motivo.

"Quer um gole?"

Ela não quer. Gosta do travinho que fica na garganta.

/interlúdio explicativo, cortesia do Eixo: como todos os seres que se imaginam humanos, mas não conhecem o plano das bactérias de Marte, Leopoldo e Adriana se engajam em relações sexuais de tempos em tempos. Conhecedora da única maneira de excitá-lo, ela se veste de garotinha, com vestidinhos, maria-chiquinhas e todo tipo de vestuarinho. Não há nenhum registro de coito regular entre os dois, sendo que todo o ato se resume à felação. Argumento de Leopoldo: não teria coragem de penetrar uma garotinha, seria violento demais. "É tudo uma questão de encaixe", costuma comentar. Adriana nunca disse, mas em sua mente costuma imaginar que ele é o garotinho e ela a perversa. Apenas Eu sei que ambos são Puros. /

"Isso aí, gosto do travinho que fica".

Ah, travinho. Tudo bem. Leopoldo ri e continua a beber sua cerveja. Ela pensa em pintar as unhas do pé de amarelo, e observa a chuva pela janela. Ele olha para o umbigo e pergunta, sem mover o olhar, se ela o acha doente por suas fantasias pedófilas. Não, de jeito nenhum, na verdade ela nem considera pedofilia uma perversão se for vista pelo ângulo certo. O ato em si não tem problema nenhum. Os obstáculos começam a surgir ao nível da carga simbólica que cada sociedade dá a ele.

/hoje o Eixo está tagarela: Desde o final da adolescência Leopoldo percebeu sua atração sexual por meninas com menos de dez anos. Adorava passar as tardes em praças onde podia vê-las aos bandos, gravando tudo para sua prática masturbatória. Se comprazia em vê-las brincando, e foi assim que começou a fumar cigarros. Mas não desviemos o assunto. Não havia brincadeira que lhe fosse mais excitante que o elástico. Pequenas mulheres de oito ou nove anos, com saias muito curtas, pulando e abrindo as pernas, deixando entrever as calcinhas de algodão. Ele achava sublime, ou, em momentos menos místicos, um "petisco". A única vez em que compartilhou sua paixão foi com seu tio mais velho, e justamente quando observavam juntos um jogo de elástico. Eu estava lá, e Vi o jovem Leopoldo suando ao saborear as pernas gorduchas das garotinhas. Logo percebeu que o tio também olhava para elas. Emocionado pela súbita possibilidade de um cúmplice, perguntou, cuidadoso: "O que você está olhando, tio?". Meninas brincando, ele respondeu. "Sim, mas só isso? Nada mais?". Meninas brincando de elástico. "Só?". O que mais eu poderia ver, quis saber o tio, e Leopoldo desistiu do assunto. Até encontrar Adriana, mas podemos parar por aqui. Em Minha nada humilde opinião onisciente, penso que o constrangimento de Leopoldo poderia ter sido evitado se lembrasse que o tio era um grande admirador de Olavo Bilac. O fato de também ser um poeta parnasiano frustrado por ser disléxico ajudava, mas não era tão definitivo no diagnóstico./

"O ato em si é puro, como qualquer coisa enquanto essência".

A chuva fica ainda mais forte. Ainda bem que desistiram de sair. Será que alguém avisou o Geraldo? Mordendo os lábios, ele argumenta que a nível fisiológico é sempre um problema. É quase uma lei da física, uma coisa é grande e a outra pequena demais. Adriana sorri, muda a cor das unhas dos pés para roxo e suspira:

"Mas acaba entrando".

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